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SEMA
Publicado: Quarta, 22 de Março de 2017, 20h22 | Última atualização em Sexta, 12 de Julho de 2019, 14h52 | Acessos: 1043 | Categoria: Notícias

 

Foto: Fernanda Nazário/Sema-MT
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Há 15 anos, a comerciante e produtora rural Márcia Muto Rossi, de 40 anos, e seu marido Marcos Antônio Rossi, 50 anos, compraram um sítio de 48 hectares no município de São José dos Quatro Marcos (328 km a oeste da capital). O local abriga uma nascente que deságua no Corgão, situado nos fundos da propriedade, e depois segue para os Rios Bugre, Cabaçal e finda no Paraguai.

Quando adquiriram a área, quase 100% dela era pasto e o casal iniciou a inserção de gado, mas, com o passar dos meses eles perceberam que o córrego secava constantemente, isso desencadeava novos gastos e para resolver a situação foi necessário adotar medidas sustentáveis. Sem saber o que fazer para manter o recurso hídrico no local, Márcia e Marcos decidiram deixar a mata crescer – se regenerar naturalmente – e perceberam ao longo de alguns anos que o volume de água vinha aumentando no córrego.

“Sempre tive essa paixão pelo meio ambiente. Quando vi a água de volta na nossa terra fiquei muito feliz, porém não sabia o que tinha causado aquilo, associei o crescimento do mato com a volta da água e comecei a plantar ao redor da nascente”, lembra Márcia. Esse foi o primeiro passo do casal Rossi rumo à conservação da água. O próximo foi dado quando eles conheceram o ‘Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal’.

O pacto é uma iniciativa que integra 34 ações de desenvolvimento sustentável, assinado em 2015 pelo Governo do Estado, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), prefeitos de 25 municípios que abrangem as cabeceiras do Pantanal, na bacia hidrográfica do Alto Paraguai, entidades civis e outras sete secretarias estaduais. A proposta é preservar as nascentes dos rios Paraguai, Sepotuba, Jauru e Cabaçal, cujas cabeceiras têm a maior área de contribuição hídrica do Pantanal, que fornecem cerca de 30% das águas que mantêm o pulso de inundação da planície pantaneira.

Atualmente, o pacto tem 62 nascentes em fase de recuperação, uma delas tem 300 m² de extensão, dos quais 150 m² estão dentro da fazenda da Márcia e do Marcos. Para manter a água na propriedade, além de replantar, o casal conseguiu com recursos provenientes da ONG WW-Brasil, que compõe o pacto, cercar 70% da nascente situada no perímetro do sítio. O que, para Marcos, foi uma conquista. “A agora não dependemos de mais ninguém para pedir água, já temos aqui”, comemora.

O produtor acrescenta que ao abraçar a ideia ele lembrou do cenário mundial, onde a escassez da água é considerada inevitável, e pensou no futuro de seus dois filhos. “O bom seria que todos tivessem a consciência do significado de preservar. Muitos produtores só querem usufruir da natureza, mas esquecem do amanhã, o que serão dos nossos filhos sem água?”, questiona Marcos.

Produção

Quem também aderiu ao programa foi o pequeno agricultor Antônio Teixeira de Lima, 56. Ele é dono de uma área de 4 hectares em São José dos Quatro Marcos. Lá ele planta banana, laranja, abóbora, entre outras frutas e hortaliças. Há dois anos ele aceitou o desafio de instalar uma biofossa financiada pela WWF-Brasil na sua chácara. “Abracei a oportunidade com unhas e dentes porque sabia que eu também seria beneficiado”.

A biofossa é um mecanismo para produção de biofertilizante ou adubo orgânico. O processo começa no banheiro. Ao dar descarga, a água do esgoto sanitário cai na primeira caixa onde contém esterco para acelerar o procedimento de decantação. Assim que a caixa for enchendo, o líquido cai na segunda caixa e, depois, segue para a terceira onde estará pronta para ser usada na plantação, menos em folhas. Ao optar pela biofossa, o produtor precisa estar consciente de que não poderá mais usar produto químico em seu vaso sanitário, pois isso interfere negativamente no processo.

O valor da instalação da Fossa Séptica Biodigestora é em torno de R$ 3 mil e não tem gasto com manutenção. Perece um valor alto à principio, mas Antônio garante que vale a pena porque a reutilização da água gerou um impacto positivo financeiramente na vida dele. Antes ele gastava cerca de R$ 200 a cada 60 dias na compra de adubos químicos e agora não gasta mais nada.

Além de economizar, o produtor percebeu que as plantações fertilizadas com a biofossa estavam visivelmente mais saudáveis e bonitas, enquanto as demais estavam mais raquíticas. Segundo ele, a fruta não tem química e dessa forma não contamina o lençol freático, o que para ele é uma vitória, “porque esses insumos industrializados causam muito mal ao ambiente e às pessoas”. Antônio representa as 21 famílias beneficiadas pelo pacto com a instalação das biofossas.

Sobre o Pacto

O projeto teve início em 2013 e já possuiu algumas ações concluídas ou em andamento, entre elas, a recuperação das 62 nascentes diagnosticadas como degradadas, a instalação de 21 biofossas, curso de capacitação para tratoristas e experiências de pagamentos por serviços ambientais (PSA) a 76 pequenas propriedades distribuídas em Mirassol D'Oeste e Tangará da Serra. Os trabalhos não param por aí, o objetivo é de recuperar 130 nascentes e instalar mais 50 biofossas até 2020.

A área de atuação do Pacto compreende os municípios: Alto Paraguai, Araputanga, Arenápolis, Barra do Bugres, Cáceres, Curvelândia, Denise, Diamantino, Figueirópolis D´Oeste, Glória D´Oeste, Indiavaí, Jauru, Lambari D'Oeste, Mirassol D'Oeste, Nortelândia, Nova Marilândia, Nova Olímpia, Porto Esperidião, Porto Estrela, Reserva do Cabaçal, Rio Branco, Santo Afonso, São José dos Quatro Marcos, Salto do Céu e Tangará da Serra.

Para o superintendente de Recursos Hídricos da Sema, Luiz Henrique Noquelli, o  trabalho integrado entre prefeituras, ONGs e estado é imprescindível para a conservação da água. “Muitas vezes o poder público não consegue estar presente em todos os lugares para tratar das questões ambientais, por isso a parceria é importante, juntos conseguimos identificar os problemas e propor soluções”. Noquelli pontua que a única forma de fazer efetivamente a gestão dos recursos hídricos é mudando o paradigma de que as responsabilidades são apenas dos poderes públicos, isentando totalmente a sociedade.

O analista de conservação da WWF-Brasil, Breno Ferreira de Melo, acredita que as ações do pacto são pertinentes e podem contribuir para a mitigação da crise hídrica no futuro. Para ele, os resultados mais notórios serão vistos em longo prazo, tendo em vista que esse é um trabalho de ‘formiguinha’, em que é necessário o apoio do produtor rural, dos municípios e das entidades e publicas. “O papel do pacto é de sensibilizar o produtor que a degradação ambiental pode tornar sua produção menor. Para eles entenderem isso nós desenvolvemos atividades de educação ambiental, capacitações, PSA e melhorias de produção local”.

 

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