Cerca de 97% dos entulhos e de todos os outros resíduos sólidos classificados como lixo urbano terão que ter organização e reutilização até a Copa de 2014. No grupo estão restos como concreto, solo, materiais triturável e reciclável, como gesso, metal, vidro, plástico e madeira.
Na construção civil, cerca de 30% do material levado para obra gera resíduo e também terá que ter aplicação.
O alerta foi apresentado na ultima sexta-feira (10) pelo arquiteto Tarcísio de Paula Pinto, da empresa I & T – Informações e Técnicas em Construção Civil, de São Paulo, na Confortex 2011 – Feira de Móveis, Decoração e Construção, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá (MT). Com a meta, diz, “será o fim do bota-fora, lixões e entulhos nas cidades”.
A regra vale para todos os municípios brasileiros desde a lei do Plano Nacional de Resíduos Sólidos do ano passado e a Resolução 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), esta de 2002. O prazo não tem a ver com a data esportiva, mas com a necessidade de proteção da saúde pública, da qualidade ambiental, utilização de tecnologias limpas e consumo sustentável.
Tarcísio informa o desafio a superar, na medida em que cerca de 30% dos municípios brasileiros fazem controle de resíduos de construção e demolição, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008, divulgado no ano passado. A mesma pesquisa é reveladora do tamanho da barreira a vencer, pois só 2,2% dos municípios fazem processamento do resíduo.
“Não dá para se fazer disposição final de resíduo, se antes não tratar, não gerar, reduzir, reciclar e reutilizar esses materiais”.
Ele lembra que novas práticas de gestão e gerenciamento de resíduo foram introduzidas em obras de grandes centros e em cidades da copa.
“Em torno de 70% a 75% do resíduo que não são da construção vão ter que ser tratados com o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”, conta.
Em um auditório lotado de 350 profissionais e estudantes, o tema preocupa e ao mesmo tempo surpreende. Thaynna Vieira, de 19 anos, estudante do 7º semestre de Arquitetura da Unic de Primavera do Leste (MT), é projetista da Móveis Mazzonetto na cidade é uma das pessoas que agora conhece soluções para a destinação dos resíduos.
“Eu não tinha assistido palestra sobre resíduo sólido ainda. Nós acadêmicos, ficamos perguntando para onde vai esses materiais. Não se preocupa em passar isso no ensino”, cobra. Na Confortex, diz, é possível apresentar as ideias para as pessoas como forma de facilitar o equilíbrio de “conflitos entre a construção civil e a área ambiental que estão em alta”.
A amiga, Jakeline de Oliveira, 20 anos, do 5º semestre do curso e universidade que a construção civil precisa saber ganhar mais com os valores de bens desperdiçados. “Na vida urbana, precisamos saber respeitar e não criar entulhos. Na minha cidade, o entulho é jogado na beira da estrada dentro do município”.
Consciente da reutilização de materiais, Mirian Riva, 20 anos, estudante do 4º ano de Informática da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Rondonópolis, cita alguns casos de aproveitamento.
“No caso do gesso, pode ser triturado e usado como adubo. É preciso saber utilizar, fazer menos resíduo, não desperdiçar na forma”, descreve a secretária da Gaúcho Gesso. “No lixo doméstico, é preciso fazer reciclagem de plástico, reutilização do lixo orgânico como adubo e derreter metais”.
Reutilização de materiais
O arquiteto Tarcísio Pinto, da I & T – Informações e Técnicas em Construção Civil, palestrante da Confortex 2011 em Cuiabá, cita casos de cidades que já se empenham em gerar negócios a partir de entulhos e reintroduzir resíduo sólido não doméstico em cadeias econômicas. Para tanto, as cidades precisam criar Áreas de Triagem e Transbordo (ATT) e ecopontos, locais específicos para recolher os ‘lixos’ urbanos sólidos.
Em Cuiabá, legislação já prevê a identificação e definição de ecopontos, cerca de 20, mas ainda não tem nenhum implantado. “Alguém que faz reforma em sua casa, tem endereço do ecoponto para colocar material separado em local adequado”, diz o arquiteto. “Os municípios que implantam o ecoponto recebem proposta de alguém que deseja o material separado”, conta Tarcísio o balanço entre oferta e demanda dos resíduos.
Em São José do Rio Preto (SP), há 10 anos, o município tem área pública e privada para reciclar móveis velhos, madeira e outros materiais que ficam em várias cidades do Brasil em terrenos baldios e na rua.
Guarulhos, explica, tem 15 ecopontos e quatro recicladores que trituram materiais como madeira, solo e concreto. Gestores públicos e privados da cidade também transformaram restos de uma obra industrial velha e paralisada em insumo e matéria-prima reciclada para calçamento de ruas e tijolos de 390 casas no mesmo local da construção antiga. Um projeto de revitalização do espaço.
Ele cita também São Paulo, onde há cerca de 50 ecopontos. Lá, houve uma montagem seletiva dos Edifícios São Vito e Mercúrio. Tudo feito sem implosão, retirado pavimento por pavimento e os restos da construção, material triturado, virou base para 25 ruas na periferia da capital paulista.