Entre os inúmeros problemas que afetam a humanidade está o lixo. Afinal, o que é lixo? Segundo especialistas, a palavra é uma invenção humana usada para designar resíduos que são: restos, substâncias ou materiais inúteis à vida. No entanto, há correntes que afirmam que mais de 95% do que é descartado, pode ser reciclados e logo, passa a ser denominado de matéria-prima reciclável. O que não é possível reaproveitar pelo homem, é transformado pela própria natureza, como restos de organismos mortos, por exemplo.
As principais causas da poluição dos rios, lagos, oceanos e do solo, são o acúmulo de lixo sólido, como plástico, papel, metal, borracha e produtos químicos, a exemplo de defensivos agrícolas. Além do ponto de vista sanitário, a adequada condução do serviço de limpeza urbana é um importante fator, econômico, ambiental, estético e de bem-estar social. As grandes cidades produzem milhares de toneladas de resíduos todos os dias, classificados como: lixo industrial, comercial, doméstico, hospitalar e nuclear.
Na reciclagem, o lixo é tratado como matéria-prima que será reaproveitada para fazer novos produtos. “Não existe lixo, o lixo é visto como matéria-prima para industrialização de vários produtos de grande valor”, explicou o presidente do Sindicato das Indústrias de Reciclagem de Resíduos Industrias, Domésticos e de Pneus do Estado de Mato Grosso, Carlos Israilev. Ele disse ainda que “do lixo não é feito à reciclagem. Por isso, a pessoa vive do trabalho da matéria-prima e não do lixo”. Para tanto, outro termo que tem substituído a palavra lixo é resíduo sólido numa tentativa de desmistificar o produto do metabolismo social e urbano.
Apesar do descarte em sua grande maioria ser sem nenhuma forma de separação, muita gente já pecebeu que do meio de tudo aquilo que foi jogado fora é possível tirar o sustento para a família. "É daqui que eu tiro todo o sustento da minha família”, declarou a catadora, Sueli de Almeida, 32 anos, mãe de seis filhos e avó de dois netos. Há quase 5 meses, Sueli trabalha no lixão de Várzea Grande, localizado a margem esquerda da rodovia que dá acesso ao município de Nossa Senhora do Livramento, 20 km do Centro de Várzea Grande.
Sueli de Almeida trabalha diariamente das 7h às 18h. “Não é fácil trabalhar no lixão”, afirmou a trabalhadora autônoma que ganha a vida entre toneladas de resíduos. “É sofrido. Tem que ter muita vontade e garra, pois o trabalho é duro”, ressaltou a selecionadora de materiais recicláveis. No entanto, o esforço é recompensado por uma renda mensal de R$ 1.500,00.
A catadora Maria da Silva, 67 anos, trabalhou no lixão de Várzea Grande durante 14 anos. A recordação de um tempo de sofrimento está gravado na memória de Maria da Silva. “Eu trabalhava de dia e de noite com sol e chuva”, lembrou a selecionadora de materiais recicláveis que tinha uma rotina agitada, uma vez que na maioria das vezes, o horário de serviço era de madrugada de 1h às 7h. “No total, eu trabalhava mais de 10 horas por dia. Aquilo não era vida”, afirmou Maria que atualmente presta serviço em uma associação de catadores de lixo. “Agora, eu tenho vida”. Com uma renda mensal de um salário mínimo de R$ 510,00, a trabalhadora sustenta o neto.
Assim como Sueli de Almeida e Maria da Silva catadoras de materiais recicláveis que buscam no trabalho o meio de sobrevivência, Geni e Sirlene, mãe e filha também se enquandram nessa realidade. Geni do Carmo, 63 anos, catadora de lixo que há cinco anos trabalha recolhendo os lixos encontrados nas lixeiras e ruas da cidade de Várzea Grande. “Recolho o material e vendo para uma cooperativa”, informou ela que utiliza um carrinho de mercado para fazer o serviço.
A filha de Geni, Sirlene Galberto, seleciona papelão, latinha, plástico, dentre outros. “Este trabalho gera renda para minha família, além de fazer o bem para a natureza”, afirmou Sirlene, destacando que em média ela ganha R$ 500,00 por mês com o trabalho de coleta de materiais nas ruas. “Com o dinheiro, eu compro comida, pago energia e ainda compro as minhas roupas”, declarou.
Dessa forma, o catador é um sujeito que, historicamente, tira do lixo o seu sustento. Seja por meio da prática da coleta seletiva junto a alguns parceiros que doam o seu lixo ou, melhor ainda, seus recicláveis selecionados na fonte; seja caçando recicláveis pelas ruas e lixões, sacando os recicláveis do lixo misturado que o gerador não teve a decência de separar e colocou no mesmo saco o que pode e o que não pode ser reaproveitado.
LIXO E CIDADANIA
Mato Grosso viveu recentemente o I Encontro Estadual do Fórum “Lixo e Cidadania”. Na Capital mato-grossense, catadores de materiais reciclados, poder público, pesquisadores e iniciativa privada discutiram diversos temas, inclusive a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos. Para tanto, a Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos.
Com a sanção da lei, o Brasil passa a ter um marco regulatório na área de resíduos sólidos. A lei faz a distinção entre resíduo (lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que não é passível de reaproveitamento). A lei se refere a todo tipo de resíduo: doméstico, industrial, construção civil, eletroeletrônico, lâmpadas de vapores mercuriais, agrosilvopastoril, da área de saúde, perigosos, etc.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, Alexander Torres Maia, enfatizou a sanção da Política Nacional de Resíduos Sólidos e os avanços significativos trazidos, entre eles, o tratamento desse material e a previsão do fim dos lixões a céu aberto. Maia destacou que, por meio desse documento, incentivos e novas exigências, o País dá um importante passo para a destinação das 150 toneladas de lixo produzidas diariamente nas cidades brasileiras.
Outra inovação destacada pelo secretário foi a gestão compartilhada, o que significa dividir as responsabilidades entre a sociedade, iniciativa privada e poder público, na gestão dos resíduos sólidos. “A Política de Gestão dos Resíduos Sólidos é prioridade do Governo de Mato Grosso, assim como a Educação Ambiental”. Ele lembrou que Mato Grosso possui desde 2002 uma legislação nesse sentido, mais uma vez, assumindo o seu papel de protagonista em relação às questões ambientais.
NÚMEROS
Segundo pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que um em cada 1000 brasileiros é catador e que três em cada dez catadores gostariam de continuar na cadeia produtiva da reciclagem mesmo que tivessem uma alternativa. Apesar dos dados do IBGE, os catadores são vítimas de preconceito por parte da sociedade. “O povo olha para os catadores com nojo”, afirma a catadora Sueli de Almeida. “Somos todos iguais, independentes do serviço e merecemos respeito. O trabalho que o catador realiza é digno e ajuda o meio ambiente”, concluiu.