Pesquisa realizada por 174 instituições de todo o mundo, incluindo a Unemat, revelou uma gigantesca rede global de relações simbióticas de árvores com fungos e bactérias. Apelidada gentilmente pelos cientistas de "Internet das Florestas", esta rede é um fenômeno que permite a existência de florestas em todo o planeta. Árvores e microrganismos formam uma rede global de conexões. Mas tal fenômeno pode estar com os dias contados por força dos efeitos do aquecimento global. A revelação foi publicada na revista Nature em artigo escrito com a participação de mais de 200 cientistas.
Com base em um banco de dados com mais de um milhão de amostras de florestas, os cientistas revelaram que dentro e ao redor da malha de raízes das árvores, fungos e bactérias trocam nutrientes por carbono em um vasto mercado global. O esforço, que contou também com oito universidades brasileiras, entre elas a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e envolveu mais de 28.000 espécies de árvores, está ajudando a entender como as parcerias simbióticas que mantêm viva as florestas podem ser afetadas por um clima mais quente.
Dentre os mais de 200 cientistas envolvidos neste trabalho estão os pesquisadores Ben Hur Marimon e Beatriz Schwantes Marimon da Unemat. De acordo com eles, suas pesquisas revelaram o quanto estas conexões podem mudar até 2070, caso persistam as emissões de carbono no nível atual. "Poderá haver uma redução de 10% na biomassa de espécies de árvores que se associam a um tipo de fungo encontrado principalmente em regiões mais frias", afirmou o professor Ben Hur. "Tal perda poderia levar a um aumento ainda maior de carbono na atmosfera, porque esses fungos ajudam a armazenar carbono", reforçou a professora Beatriz, que colaborou com dados gerados em grande área da transição Amazônia/Cerrado.
Os pesquisadores montaram um mapa global de distribuição de três dos tipos mais comuns de simbioses: fungos micorrízicos arbusculares, fungos ectomicorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio. Cada um destes tipos engloba milhares de espécies de fungos ou bactérias que formam parcerias únicas com diferentes espécies de árvores. "Nossos modelos preveem mudanças maciças no estado simbiótico das florestas do mundo, o que pode afetar o tipo de clima em que seus netos viverão", afirmou o líder do trabalho, Brian Steidinger, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
No Brasil, além da Unemat, participaram da pesquisa o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do Acre (Ufac), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a Universidade Regional de Blumenau (Furb).