“É de arrepiar!”, comemora o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, André Baby, diante das imagens que mostram que as clareiras abertas, em pouco menos de três anos, recuperaram o tom verde bandeira. O gestor reforça que atualmente Mato Grosso possui 2,8 milhões de hectares de floresta nativa sob manejo florestal sustentável e a meta é atingir 6 milhões de hectares até 2030 por meio da Estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI).
Palco da vivência “Dia na Floresta”, a fazenda Sinopema é manejada desde 1989. Luiz Carlos Fávero, um dos proprietários do condomínio empresarial familiar que administra o negócio, entende bem a importância do manejo para a manutenção da floresta: “Se não estivéssemos aqui, tudo isso já tinha virado outra coisa”.
O presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem), Rafael Mason, conta que o setor se uniu para demonstrar o funcionamento de um manejo florestal na prática. O evento foi realizado na última semana.
Em meio às árvores gigantescas, os participantes do dia de campo observam as árvores previamente marcadas para serem retiradas. São escolhidas aquelas que já atingiram o clímax da maturidade e que já não sequestram tanto carbono quanto as árvores que ainda estão em desenvolvimento. Essa marcação é feita por meio de um diagnóstico que verifica a viabilidade econômica e ambiental para exploração da área e é apresentado para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) juntamente com os dados que atestam a propriedade do imóvel.
Com a autorização da pasta, a exploração tem início somente após a averbação de compromisso na matrícula da propriedade. É a garantia da manutenção da floresta em pé, já que empreendedor só pode explorar a mesma área novamente após 25 anos ou caso comprove que o incremento da floresta foi igual ou superior ao volume retirado. A superintendente de Gestão Florestal da Sema, Suely Bertoldi, explica os trâmites a representantes dos ministérios Público Federal e Estadual, Procuradoria Geral do Estado (PGE): “Havendo a exploração, fazemos o monitoramento por imagens e vistoria in loco para comprovar que a área está sendo manejada conforme projeto apresentado ao órgão ambiental”.
Dia na Floresta
O grupo define a árvore que será abatida: o cambará número 4760 de cerca de 14 metros de altura. A queda é analisada e calculada para causar o menor dano possível e com precisão ela passa por entre os cedrinhos, sendo a única árvore a ser retirada. Os troncos são medidos e sinalizados garantindo a integridade da cadeia de custódia. “Podemos ir lá no pátio agora, escolher uma tora aleatoriamente e com a identificação procurarmos a árvore no mapa. A base estará no exato lugar demarcado”, desafia Angeli Katiucia, engenheira Florestal responsável pela área.
A próxima etapa é o arraste até a esplanada, área aberta em que as toras são estocadas. As trilhas são previamente definidas e planejadas em formato de espinha de peixe, uma principal e secundárias na diagonal, para que o trator arraste as toras sempre pelas mesmas vias, causando o menor impacto possível. O grupo observa as toras saindo da mata, sendo novamente medidas, seccionadas e remarcadas até serem transportadas à esplanada principal.
Na grande área onde as madeiras estão estocadas, é o momento da tecnologia e sistemas de informação serem utilizados para a coleta dos dados dos produtos, assegurando a rastreabilidade de todo o processo. O procurador do MPF, Pedro Mello, pede para ver no computador onde está o cambará número 4760 e, após a busca, ele é encontrado na faixa 143, referência geográfica utilizada no plano de manejo para marcar as árvores no mapa.
Regeneração
O ponto alto do evento realizado por Sema, Estratégia PCI, Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem) e Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal (FNBF) é a visita às unidades de produção manejadas em 2015. Está evidente a rápida regeneração da floresta, já que não é mais possível identificar nem as trilhas e nem as esplanadas. Os pinhos cuiabanos, árvores primárias, já atingem cerca de três metros de altura. Após o crescimento das plantas pioneiras na busca pelo sol, virão as árvores secundárias e terciárias de acordo com o ciclo do ecossistema.
Para o diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Raimundo Deusdará Filho, trabalhando no ritmo da floresta é possível obter retorno econômico e preservar o meio ambiente. “O mantra é conhecer e usar para conservar”.