Pela primeira vez Mato Grosso traz a temática ambiental para a agenda de desenvolvimento econômico e fortalece o vínculo com parceiros na implantação do programa Produzir, Conservar e Incluir (PCI), que tem a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2020 aliada à expansão da produção e à inclusão social. Durante a reunião com integrantes do Consumer Goods Forum (CGF) - Fórum de Bens de Consumo - nesta terça-feira (31.05), em Cuiabá, investidores internacionais e representantes de diversos setores participaram de uma oficina de trabalho que visa ampliar a produção sustentável para uma larga escala de produção.
O secretário executivo da Sema, André Baby, enfatizou que mais que esforços concentrados no combate ao desmatamento ilegal, o Governo do Estado está se concentrando na construção do Sistema Estadual de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento, Degradação florestal, Conservação, Manejo Florestal Sustentável e Aumento dos Estoques de Carbono Florestal) que tem a proposta de valorizar os esforços da população em manter a floresta em pé. “Temos que oferecer oportunidades às pessoas de produzir de maneira sustentável e paralelamente formas de conviver com a floresta sem ter de convertê-la, seja para a agricultura ou pecuária.”
Na avaliação de Lucian Peppelenbos, diretor na IDH, que é uma rede formada por mais de 500 empresas internacionais e organizações da sociedade civil que buscam produtos de origem responsável, a reunião significou um encontro entre dois mundos com a proposta de uma parceria para o aumento de produção das commodities e paralelamente a diminuição do desmatamento por meio de estratégias que propõem a produção sustentável. “Todas essas soluções serão construídas conjuntamente. Por isso eu avalio este evento como único, porque estaremos liderando uma iniciativa que será modelo internacional.”
Desafio e inovação
O representante do Grupo Carrefour, Fernando de Carvalho, afirmou que depois de 40 anos de mercado brasileiro, disse estar entusiasmado com o PCI por considerá-lo inovador. Por outro lado, disse que será um desafio dos parceiros inserir no tripé que leva ao consumo consciente o componente ambiental, hoje, o consumidor foca nos itens preço, qualidade e segurança. “Comprar ou deixar de comprar um produtor em razão da diminuição do desmatamento não impacta diretamente nas vendas ainda. Com a proposta ambiciosa de produção sustentável em grande escala podemos ser catalisadores de muitas mudanças, de um novo paradigma mundial."
Para o gerente de sustentabilidade da Marfrig, Mathias Almeida, o debate com parceiros e investidores para encontrar meios de tornar o programa proposto pelo Mato Grosso factível foi enriquecedor porque mostrou que as ideias convergem ao mesmo ponto: valorização do produtor, que é o responsável hoje pela maior parte da conservação das florestas no país e também no Estado, e que precisa contar com apoio durante o processo de mudança. “Por que não investir na manutenção da floresta em pé no Brasil? Afinal, quem comprar nossos produtos contribuirão diretamente com esse novo modelo de produção.”
O presidente da comissão de meio ambiente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Ricardo Arioli, disse que o setor produtivo já aceitou a quebra de paradigma e está disposto a colocar em prática o novo Código Ambiental, mas entende que o melhor processo é de melhoria contínua em que haja incentivos pelos investimentos para produtores e municípios. “Nós entendemos que qualquer tipo de certificação é excludente e não traz benefícios em larga escala, por isso avalio esta oportunidade de discutir ações que possam incluir a todos como benéfica do ponto de vista econômico e também social, com reflexos diretos na conservação ambiental.”
Terceiro Setor
A diretora adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Andrea Azevedo, frisou que o programa de Governo significa um amadurecimento nas relações após um grande pico do desmatamento que ocorreu em 2003 e que foi uma oportunidade de todos os setores se reunirem para buscar uma solução. Ela afirmou que nesse período houve inclusive um grande amadurecimento do agronegócio que conseguiu provar ao mundo que é possível aumentar a produção e ao mesmo tempo diminuir o desmatamento. “Ter o Estado nessa posição de liderança não é trivial, é uma bússola que nos diz que daqui para frente temos muito trabalho sim, mas também um caminho de sucesso.”
Para o diretor executivo do Instituto Centro de Vida (ICV), Renato Farias, é importante Mato Grosso olhar além das estratégias de comando e controle para combater desmatamento. Também observar o cenário atual como de ‘oportunidades’ principalmente para construir uma linha de transparência e confiança entre os parceiros, investidores e consumidores. “Temos que ter um debate mais profundo sobre a questão do desmatamento, aliados à busca de investimentos que realmente possam trazer inovações importantes aos sistemas de produção.”
Parceria firmada
Após assinar protocolo de intenções com o Governo do Estado, Ted van der Put, diretor de Programas da Sustainable Trade Initiative (IDH) – Iniciativa para o Comércio Sustentável - avaliou que a criação de uma estrutura necessária para a aplicação do PCI exigirá muito trabalho, confiança, comunicação e diálogo. “Vamos ter muitas barreiras a vencer internamente e também com a comunidade internacional, a proposta é juntar as peças do grande quebra-cabeças aos poucos, avançando gradualmente.”
Também participaram do encontro no Palácio Paiaguás, o secretário de Trabalho e Assistência Social Valdiney de Arruda; o secretário adjunto de Agricultura Familiar e Assuntos Fundiários, Corgésio Albuquerque; a secretária executiva do Gabinete de Desenvolvimento Regional, Patrícia Lemos. A reunião foi uma iniciativa da IDH, do CGF e da ProForest, organização sem fins lucrativos que apoia empresas, governos e outras organizações na implementação de seus compromissos com a produção e compra responsável de commodities agrícolas e florestais.