Desde que surgiu nos anos 80, a suinocultura de Mato Grosso cresceu consideravelmente e hoje o estado é o 5º maior produtor do país, com cerca de 140 mil matrizes. Mas as granjas do Estado ainda tem um grande desafio: reduzir os impactos ambientais e sanitários gerados pela produção de dejetos. Se despejados em um corpo hídrico sem o adequado tratamento, os dejetos podem causar a morte de peixes, contaminação da água por organismos de risco para a saúde pública e dos animais e a sobrecarga de minerais.
Com a proposta de equacionar essa problemática e aliar o manejo correto do dejeto à conservação ambiental um grupo de pesquisadores, técnicos da área, empresários e gestores públicos estiveram reunidos na manhã desta terça-feira (11.05) em Cuiabá, durante um workshop realizado em parceria pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e a Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat).
A superintendente de Infraestrutura, Mineração, Indústria e Serviços da Sema, Lilian Ferreira dos Santos Faria, ressalta que quando o produtor de suínos inicia um processo de licenciamento ambiental do empreendimento, o órgão exige um planejamento de como o dejeto será tratado e destinado. “O dejeto é um recurso que não pode ser simplesmente jogado fora, ele causa sérios impactos, às vezes irreversíveis ao meio ambiente, e o nosso objetivo é reformular os procedimentos do licenciamento para que o produtor se adeque a um modelo sustentável de manejo”. Ela acrescenta que quando manejados adequadamente, os efluentes podem ser transformados em fertilizantes o que fará com que o produtor diminua o uso de produtos químicos.
Tratado como vilão por muitos anos, o dejeto de suínos pode ser um grande aliado econômico e ambiental. O pesquisador e gestor do núcleo temático de meio ambiente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rodrigo da Silva Nicoloso, explica que os dejetos são ricos em nutrientes como o nitrogênio, fósforo e potássio. “A aplicação desordenada do fósforo no solo, por exemplo, pode gerar acúmulo, atingir o corpo hídrico e causar poluição. Por isso o dejeto não pode ser manejado de qualquer maneira”.
Uma das alternativas ao uso dos dejetos citadas por Rodrigo é a fertilização das plantas. Ao optar por associar a atividade de suinocultura com agricultura, o produtor garantirá mais produtividade e alavancará a economia, além de contribuir com o meio ambiente. “O produtor vai dar uma destinação adequada para o dejeto, incrementar sua renda com a plantação e diminuir os gastos com fertilizantes químicos”.
Outra opção de uso do dejeto é o processo de biodigestão. Nesse processo o dejeto produz o gás metano que pode ser usado como fonte de energia reduzindo a emissão de gás na atmosfera. “O biogás, por meio da captação de energia, pode alimentar outras coisas dentro da propriedade como geradores e maquinas. E assim o dejeto passa de poluidor para potencial gerador de renda para o produtor”.
O pesquisador em água residuária na fertirrigação e engenheiro agrônomo da Universidade Federal de Viçosa (MG), Luís César Dias, explica que a composição química e o volume dos desejos são fatores de grande importância para o estabelecimento dos sistemas de manejo armazenagem, tratamento, distribuição e utilização desses dejetos visando a máxima redução do poder poluente. Ele pontua alguns tratamentos dos dejetos suínos no Brasil, como as lagoas de decantação e os biodigestores. Ele destaca também a proposta da reutilização da água reseduária na fertirrigação para transformar os resíduos em insumo.