Governo do Estado, TRT e MPT promovem evento no dia 3 de agosto para esclarecer produtores rurais e população sobre riscos na utilização excessiva de agrotóxicos nas lavouras
Mato Grosso é campeão brasileiro na utilização de agrotóxicos. Dados do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) revelam que, em 2013, pelo menos 140 milhões de litros de herbicidas, inseticidas e fungicidas foram jogados nas lavouras. Isso equivalente ao consumo de 43 litros de veneno por pessoa no Estado. Para buscar minimizar essa situação que provoca danos não só ao meio ambiente, como à saúde humana, as secretarias de Estado de Meio Ambiente (Sema) e de Justiça e Direitos Humanos, juntamente com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT/MT) e o Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso (MPT/MT) realizarão audiências públicas em diversos municípios-polo de produção, o primeiro deles, Campo Verde, no dia 3 de agosto.
Para a secretária de Meio Ambiente, Ana Luiza Peterlini, que recebeu no gabinete da Sema na tarde desta segunda-feira (08.06) representantes de instituições parceiras para traçar um plano de ação referente ao assunto, é preciso mostrar aos produtores rurais da região que eles são os principais afetados pelo alto índice de uso dos agrotóxicos, pois têm contato direito com os produtos a partir da inalação pelo ar, ingestão na água e nos alimentos ou mesmo contaminação por meio do solo. "O uso indiscriminado e a forma de usar são preocupantes, a maioria das pessoas não tem informação sobre os efeitos. Nosso objetivo principal é esclarecer."
Os representantes do TRT/MT, o presidente Edson Bueno, e a vice-presidente Maria Beatriz Theodoro Gomes, pontuaram que é preciso envolver toda a sociedade para discutir esse tema, inclusive pesquisadores do setor produtivo e das universidades de Mato Grosso, como Unemat e UFMT. "Nesse momento não adianta acusar ninguém, é preciso trabalhar com conscientização", disse Bueno. Já Maria Beatriz enfatizou o 'despertar' para o uso racional desse tipo de produto que é necessário sim, especialmente em um Estado que é grande produtor no país. "A ideia não é proibir, mas mostrar que o caminho é o desenvolvimento econômico sustentável, afinal, a saúde é prioridade para todos nós."
O secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Márcio Dorileo, pontuou que é preciso a sociedade e principalmente os produtores rurais despertarem para uma visão mais crítica sobre os agrotóxicos. Se por um lado as empresas, muitas delas multinacionais, têm forte atuação no Estado, por outro, compete aos mato-grossenses olharem de maneira mais estratégica para possíveis eventos negativos nas lavouras. "Será que precisamos mesmo usar esse produto? Não existe uma opção mais sustentável? Por que este produto que não é utilizado em outro país é liberado aqui no Brasil? Existem pesquisas que realmente comprovam que não faz mal à saúde humana? Ou seja, precisamos nos unir para formar uma massa mais crítica sobre essa questão."
O deputado estadual Dilmar Dal'Bosco, presidente da Comissão de Meio Ambiente na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, mostrou que é de interesse dos produtores debater o assunto que afeta diretamente empresários de vários municípios, como Ipiranga do Norte e Itanhangá, onde muitos deles residem ao lado das plantações e já sofrem efeitos da exposição prolongada. "Temos que investir no acesso à informação para que haja uma evolução nesse setor."
Outras instituições também integrarão a lista de parceiras para promoção das audiências públicas e seminários nos municípios do Estado, entre elas, Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), Secretarias de Estado de Saúde (SES) e Educação (Seduc), UFMT, Unemat, Ministério Público do Estado (MPE), sindicatos rurais, associações de pequenos produtores, etc.
Pesquisa em andamento
Atuante nesta área como coordenador do Fórum Mato-grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, o procurador do Trabalho (MPT-MT), Leomar Daroncho, explicou que já realizou no mês de fevereiro deste ano reuniões em Campo Novo dos Parecis, Sapezal e Campos do Júlio para apresentar o projeto de pesquisa 'Avaliação da contaminação ocupacional, ambiental e alimentar por agrotóxicos na bacia do Juruena', realizado em parceria com o Núcleo de Estudos Ambientes e Saúde do Trabalhador da UFMT. Além de coletar material para a pesquisa, como água e sedimentos, a comitiva alertou representes de sindicatos dos trabalhadores rurais, profissionais da saúde, professores e a comunidade mais vulnerável sobre os prejuízos da exposição aos agrotóxicos. "A falta de dados confiáveis e a deficiência na informação e/ou de alternativas das vítimas do modelo de produção adotado ainda são os maiores adversários da defesa do trabalho e da vida em condições seguras."
Maior consumidor
Conforme a Associação de Engenheiros Agrônomos de Sapezal, somente na unidade de recebimento de embalagens de agrotóxicos da cidade são recolhidas, anualmente, cerca de 600 toneladas de embalagens vazias. O número ajuda a entender como Mato Grosso se tornou o campeão brasileiro na utilização desses produtos para o cultivo das lavouras. Para o procurador do MPT, além dos milhões de litros de veneno que são despejados na água e no solo, contaminando os rios e os alimentos e gerando passivo ambiental, há, ainda, os prejuízos causados pelo descarte incorreto das embalagens.
Riscos à saúde
No início de abril deste ano, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) pediu oficialmente a redução do uso de agrotóxicos no país, já que o Brasil se tornou o maior consumidor desses produtos no planeta, ultrapassando 1 milhão de toneladas em 2009, equivalente a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante. A informação é do estudo 'Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida', publicado em 2011 pela pesquisadora Flavia Londres. De acordo com o Inca, essas substâncias geram diversos tipos de reflexos à saúde, de intoxicações agudas, entre elas, irritação da pele e dos olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões e até a morte. Já em longo prazo, pode haver aumento da infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.