Em Mato Grosso, pouco mais de 3 milhões de hectares, cerca de 15,55%, do total das áreas desmatadas no bioma Amazônia, são utilizados para a agricultura anual e aproximadamente essa mesma quantidade, são de terras com diferentes níveis de degradação, que podem ser recuperadas de várias formas, entre elas, o plantio de florestas, pela própria agricultura e outras atividades produtivas sustentáveis.
Essas são algumas das conclusões do Levantamento de informações de uso e cobertura da terra na Amazônia, um estudo desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base nos dados e informações do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), que mostra o perfil do desflorestamento na região a partir de imagens de satélites.
Os resultados do estudo referentes à Mato Grosso foram apresentados na manhã desta terça-feira (13.03), durante a abertura do Seminário “Terra Sustentável – Ideias para recuperar e preservas terras degradadas”, promovido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e Associação de Reflorestadores do Estado de Mato Grosso (Arefloresta).
Segundo dados do Terraclass, o principal uso das áreas desmatadas no bioma Amazônia em Mato Grosso até o ano de 2008 está ligado à pastagem ou seja, 68% da área desflorestada no estado, no bioma Amazônia, foram ocupados pela pecuária. Por outro lado, 1,1 milhões de hectares, o que corresponde a 5,64% estão sendo regenerados com pasto. Já o pasto com solo exposto, ou seja, áreas que após o corte raso da floresta e o desenvolvimento de alguma atividade agropastoril, precisam ser recuperadas ou melhor utilizadas, totalizam 33,6 milhões de hectares (0,17%) do total desmatado.
O estudo foi realizado a partir da divisão em classes temáticas, Agricultura Anual, Mosairo de Ocupações, Área Urbana, Mineração, Pasto Sujo, Regeneração com Pasto, Pasto com solo exposto, Vegetação secundária, outros e área não observada (em função da cobertura de nuvens). O levantamento trás informações como a área urbana localizada onde originalmente existia somente o bioma Amazônia, é de 46,8 mil hectares (0,24%) e a mineração, por exemplo, ocupa 23,7 mil hectares (0,12%).
Para o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável (SEDR), do Ministério do Meio Ambiente, que representou a ministra Izabela Teixeira no evento, Roberto Vizentim, o TerraClass, ao mostrar a dinâmica de ocupação do bioma amazônico nos nove estados que compõem a Amazônia Legal - Acre, Amapá, Amazonas, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins -, mostrou que “a política de floresta no Brasil não deve olhar apenas os grandes produtores mas também os pequenos agricultores, assentados, agricultores familiares com foco no melhor e mais produtivo uso sustentável dessas áreas”.
Para ele, tanto o governo federal como o estadual precisam investir nas politicas que incentivem o do plantio de florestas de forma sustentável e integrada ao manejo adequado do solo, atendendo às necessidades sociais. "A política florestal deve ter um olhar amplo, buscando integrar sistemas agroflorestais que conciliem agricultura e floresta, com ampla diversificação de culturas na mesma terra".
Ao falar sobre o levantamento Cláudio Aparecido de Almeida, representante do Inpe lembrou que “a Amazônia Legal possui realidades distintas e, era preciso entender como ocorria essa ocupação. Com isso, vamos identificar a dinâmica de uso dessas áreas e, a partir daí, sabermos como ela está hoje".
O pesquisador da Embrapa, Alexandre Camargo Coutinho destacou que “as informações reunidas no Terraclass vão auxiliar os governos federal e estadual, na definição de estratégias para investimentos em ações de preservação da floresta e na utilização das áreas com potencial de exploração”.
Ao abrir oficialmente o seminário, o secretário de estado do Meio Ambiente, Vicente Falcão de Arruda Filho, disse que todas as classes monitoradas no levantamento são de grande importância para o direcionamento das política públicas na área da gestão ambiental no estado. “Essas informações vão apoiar o governo na tomada de decisões em relação a programas desenvolvidos pela Sema como o de fomento a projetos de recuperação de áreas degradadas em pastagens, identificação de áreas irregulares de mineração e outros”.
O secretário destacou também que o levantamento será utilizado na aferição da meta de redução do desmatamento do Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento e Queimada (PPCDQMT), já que indicam áreas que foram desmatadas no passado e que agora encontram-se em processo de regeneração, estocando carbono e contribuindo para a recuperação da floresta em Mato Grosso.
SEMINÁRIO TERRA SUSTENTÁVEL
O “Seminário Terra Sustentável – Ideias para recuperar e preservar terras degradadas” prosseguiu no período da tarde, no Auditório da Famato, com palestras sobre os temas “Florestas Plantadas no Brasil”, pelo representante da Associação Brasileira de Produtores de Floresta Plantadas (Abraf), Benedito Mário Lázaro; “As florestas plantadas no Mato Grosso”, pelo representante da Arefloresta, Fausto Takizawa; “Cooperativismo no Negócio Florestal”, com o representante da Cooperativa de Produtores de Madeira, Resíduos Florestais e Bioenergia, Gilberto Goellner; “A Gestão do Negócio Florestal”, com o representante da MIA, Marcelo Ambrogi.
Cerca de 100 pessoas entre servidores e gestores públicos ligados ao setor florestal das secretarias de Meio Ambiente (Sema), de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (Sedraf), de Indústria, Comercio, Minas e Energia (Sicme), e representantes de associações e cooperativas de produtores participaram do evento.
O presidente da Associação de Reflorestadores do Estado de Mato Grosso (Arefloresta) falou sobre o setor em Mato Grosso e destacou o grande potencial do estado e as perspectivas para o futuro. Hoje o estado possui pouco mais de 200 mil hectares de floresta plantadas com as espécies eucalipto, teca, pau de balsa e seringueira. "Nossa expectativa é de que possamos implementar estratégias e ações para alavancar o setor de florestal de Mato Grosso".
Também participaram do evento a secretária-adjunta de Mudanças Climáticas, Suely Fátima Menegon Bertoldi; a superintendente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em Mato Grosso (Ibama/MT), Cibele Madalena Xavier Ribeiro; o coordenador-geral da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado estadual, Zeca Viana entre outros.