Cerca de 70 pessoas, entre pesquisadores, técnicos, agricultores, comunidades indígenas e quilombolas participaram, entre os dias 05 e 09 de junho, do intercâmbio Troca de Experiências e Saberes nos municípios de Juruena, Cotriguaçu e nas aldeias indígenas Curva e Barranco Vermelho, em Brasnorte.
O evento foi promovido pelo Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso, executado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema), financiado pelo GEF, que teve como objetivo mostrar experiências bem sucedidas que podem ser replicadas em outras regiões do Brasil.
Para Rose Diegues, oficial de programa do PNUD, o encontro foi muito importante para que pessoas de diferentes regiões do Brasil, que tem problemas semelhantes possam ver que existem alternativas que trazem resultados práticos. “Nas áreas de referência do projeto que visitamos no Noroeste, as pessoas possuem experiências extrativistas e todos que vieram para cá puderam ver como que funciona na prática nosso apoio e eles podem vislumbrar melhor aquilo que eles querem pra eles”, explica Rose.
A propriedade do Luiz Vieira Nascimento, mais conhecido como Luizão, localizada no assentamento Nova Esperança, em Cotriguaçu chamou a atenção dos participantes pela qualidade de seu sistema agroflorestal. Em uma área de 15 hectares ele cultiva mais de 60 espécies de plantas consorciadas, entre cupuaçu, cacau, guaraná e palmito de pupunha, de onde vem a maior parte de sua renda. Luizão nasceu no Paraná e é filho de nordestinos. Antes de chegar ao município onde é assentado há 15 anos trabalhou em várias regiões do Brasil e ficou em acampamentos de sem terra durante cinco anos em Mato Grosso do Sul.
Antes de fazer parte do Projeto de Conservação e Uso Sustentável a ocupação de seu lote de 100 hectares não era diferente de outros da região que desmatava para produzir alimentos para subsistência e criação de gado de corte. Com o projeto ele foi incentivado a fazer experimentos de sistemas agroflorestais (SAFs), que transformou sua vida. “O uso do SAFs não dá riqueza, mas dá uma boa alimentação sem uso de agrotóxicos e garante o futuro dos filhos”, explica Luizão, que além das espécies frutíferas possui centenas de árvores de alto valor comercial, como a Teca, que poderão ser manejadas no futuro. “Com uma ou duas árvores eu já consigo pagar uma faculdade”, sonha o agricultor que aos 55 anos está terminando o ensino fundamental na escola do assentamento Nova Esperança.
Os participantes do intercâmbio também conheceram o manejo da seringa nativa e da castanha-do-Brasil feito pelos índios Rikbaktsa Um dia antes conheceram o trabalho da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam) e Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA), ambas localizadas no assentamento Vale do Amanhecer, em Juruena. Essas experiências mostraram como é possível obter renda a partir do uso sustentável da floresta, evitando o desmatamento.
"Ao mesmo tempo em que o projeto incentivou a implantação de alternativas sustentáveis e realizou diversas capacitações para os indígenas, agricultores e extrativistas, a experiência da Sema e do PNUD ajudou a atrair novos projetos para a região, garantindo uma continuidade de ações com os grupos sociais que trabalhamos na última década”, aponta Eliani Fachim, coordenadora nacional do projeto e analista de meio ambiente da Sema.
O Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso também contribuiu na formulação de políticas públicas, como vem ocorrendo com a redução do ICMS para comercialização de produtos da sociobiodiversidade, como a castanha-do-Brasil. “Está sendo detalhado pelo governo estadual um decreto sobre recuperação de áreas degradadas e um dos itens do decreto é a possibilidade dessa recuperação ser feita com sistemas agroflorestais, com prioridade aos pequenos proprietários”, finaliza.
Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso
O projeto, desenvolvido entre 2001 e 2011 busca compatibilizar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação da biodiversidade por meio de ações conjuntas nas esferas federal, estadual e municipal, com agricultores familiares, populações tradicionais extrativistas e indígenas, bem como empresários do setor madeireiro.
O Projeto foi desenvolvido em três componentes: Áreas protegidas; Implantação de Sistemas Agroflorestais e Manejo florestal. Esses três eixos asseguraram a conclusão dos levantamentos fundiários dos Parques Estaduais Igarapés do Juruena e Tucumã, a elaboração de planos de manejo para a Estação Ecológica Rio Roosevelt, o Parque Estadual Tucumã, a Estação Ecológica do Rio Madeirinha e a Reserva Extrativista Guariba Roosevelt, além de desenvolver atividades econômicas sustentáveis na zona de amortecimento destas UCs, como estratégia de conservação da biodiversidade destas áreas.